Gênio Transformador
Nome fundamental da arquitetura moderna, um dos mais revolucionários do século 20, Le Corbusier era, antes de tudo, um artista. Atuava muito além das pranchetas, como urbanista, pintor, escultor, designer de móveis, fotógrafo amador, cineasta, pensador e escritor. Com um trabalho marcado por enorme poder de síntese, foi agente de grandes mudanças no pensamento arquitetônico, e seu legado ecoa com força no século 21.
O início
– 1887: Charles-Edouard Jeanneret-Gris nasce na pequena cidade industrial La Chaux-de-Fonds, na Suíça.
– 1904: Ingressa na escola de artes, onde seu mentor, René Chapellaz, o incentiva nos estudos de arquitetura.
– 1905: Aos 18 anos, projeta sua primeira casa, Villa Fallet, um chalé de montanha.
– 1907: Inicia viagens pela Europa, aprofundando conhecimentos. Seus primeiros contatos com a arquitetura clássica são em cidades da Itália; depois, Budapeste e Viena.
– 1908-1910: Em Paris, trabalha com o arquiteto Auguste Perret, pioneiro no uso do concreto armado.
– 1911: Já em Berlim, no escritório de Peter Behrens (precursor do Desenho industrial), conheceu Mies van der Rohe e Gropius. Da Alemanha, parte para a famosa “Voyage d’Orient” – Praga, Budapeste, Istambul e Atenas, entre outras. Documenta a jornada em artigos, esboços e fotografias.
– 1917: Muda-se para Paris.
– 1920: Adota o pseudônimo que entraria para a posteridade – Le Corbusier.
– 1922: Abre escritório de arquitetura com seu primo Pierre Jeanneret.
Arquiteto de vários ofícios
Do mosaico de estilos e épocas diversas com o qual Le Corbusier teve contato durante viagens pelo mundo, captou o que considerava essencial e atemporal, desenvolvendo obras vanguardistas, como projetos urbanísticos, conjuntos de habitações populares, edificações públicas, igrejas, residências e instituições em diversos países. Seu desejo de experimentação corroborou para torná-lo um visionário em diferentes matérias.
“Não existem escultores só, pintores só, arquitetos só. O acontecimento plástico realiza-se numa forma una ao serviço da poesia. Sou um acrobata da forma, criador de formas, jogador com as formas. As formas são um meio de exprimir toda a emoção plástica.”
Le Corbusier
Alguns marcos de Le Corbusier
Ainda em sua cidade natal, iniciou seus próprios estudos sobre concreto armado, solicitando a patente do sistema construtivo Dom-ino House (Casa Dominó) – pisos de concreto elevados acima do nível e apoiados em finos pilares, com possibilidade de comunicação livre da fachada e do espaço interior, visando empregar ao edifício atributos formais modernos, concretos e abstratos.
Croqui do sistema de construção Dom-ino House.
Como pintor, foi inicialmente atraído pelo cubismo, antes de se render ao purismo, movimento que defendia uma pintura racional e rigorosa, sem subjetividade ou qualidades decorativas. A utilização de formas e estruturas claras, entre outros conceitos que o guiariam pela carreira, ficou conhecido como international style.
Nature morte (1921), óleo sobre tela – Musée National d’Art Moderne (Paris).
Le Corbusier também concebeu e editou, com o pintor Amédée Ozenfant, a revista L’Esprit Nouveau (1921-1925), onde introduziu seu ensaio inovador, os Cinco Pontos da Arquitetura (planta livre, construção sobre pilotis, terraço-jardim, fachada livre e janela em fita), representado, futuramente, pela Villa Savoye, em Poissy, na França.
A icônica Villa Savoye (1928), que forma com a residência Farnsworth (de Mies van der Rohe) e a Casa da Cascata (de Frank Lloyd Wright) uma tríade paradigmática das tendências da arquitetura moderna que surgiam no início do século.
Ao fim da década de 1920, requisitado internacionalmente, começou a viajar pelo globo. Em 1928, colaborou na fundação do Congresso Internacional de Arquitetura Moderna, organizada pelos principais nomes internacionais para discutir os rumos dos vários domínios da arquitetura (paisagismo, urbanismo, exteriores e interiores…).
No ano seguinte, Le Corbusier viajou para a América do Sul, dando palestras no Uruguai, Argentina e Brasil, que visitaria outras vezes. Já na década de 1930, no Rio de Janeiro, registrou praias, favelas, moradores… Reuniu-se com Lucio Costa (com quem colaborou no projeto do Ministério da Educação e Saúde) e Oscar Niemeyer, então um jovem promissor, e outros arquitetos modernistas.
Plano para a cidade do Rio de Janeiro, vista da Baía da Guanabara (1929).
Esboço do Ministério da Educação e Saúde, no Rio de Janeiro (1935): Le Corbusier leva a novos patamares seus cinco pontos da arquitetura.
Já na última parte da Segunda Guerra Mundial, Le Corbusier voltou sua atuação à teoria e escrita. À época, criou o modulor, um sistema baseado na Proporção Áurea, dimensionado para a figura humana, em que a altura do homem médio deveria servir de proporção a toda construção, devolvendo a harmonia aos espaços para o conforto de seus usuários.
A partir de 1945, o modulor se torna ponto de partida para seus trabalhos arquitetônicos.
Duas das mentes mais brilhantes do século passado: em 1946, Le Corbusier encontra Albert Einstein, em Princeton (EUA).
O arquiteto passava por um período de incerteza e estresse, então discutiu sobre o modulor com o físico Albert Einstein. Mais tarde, em carta para Le Corbusier, Einstein escreveu – “É uma escala de proporções que faz o mau difícil e o bom fácil”.
Legado do Mestre
Sua predileção por uma estética áspera e concreta (béton brut), sobretudo em seus últimos projetos, é apontada como prenúncio da arquitetura brutalista, vertente que teve grande expansão até a década de 1970. Em sua profícua carreira, Le Corbusier projetou diretamente 75 edifícios em 12 países, assessorou mais de 400 projetos arquitetônicos, publicou quase 40 livros e centenas de ensaios. Porém, artista controverso, muitas de suas ideias eram excessivamente utópicas para serem colocadas em prática.
Unité D´Habitation, em Marselha (1945): linhas simples, organizadas com todo o rigor, eram a base das suas construções, mas sem abandonar a ideia de que o urbanismo deveria constituir um passo em direção à felicidade.
Le Corbusier e a esposa, Yvonne.
Não parou de trabalhar, inclusive pintando e expondo até o fim da vida: faleceu em 1965, à beira-mar, em Roquebrune-Cap-Martin (França), onde passava os verões com a esposa, Yvonne.
MULTIFACETADO
Sua pluralidade foi revisitada em Le Corbusier: An Atlas of Modern Landscapes, exposição do MoMA de Nova York, em 2013, que virou livro/catálogo. Através de uma coleção de aquarelas, cadernos de desenho, cartas, publicações e fotografias, a obra examina a relação de Le Corbusier com paisagens dos cinco continentes. Apesar de frequentemente lembrado como indiferente aos entornos de seus prédios e planos, de acordo com sua proposição de que “o exterior é sempre um interior”, seus projetos responderam a geografias específicas, já que, para ele, a paisagem merecia ser homenageada como cenário para a vida do ser humano.
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