“Há olhos e olhos. Olhos que sabem ver e olhos que não sabem ver”, já diria Lina Bo Bardi. E quando se fala em artesanato e arte popular brasileira, é imprescindível se despir de preconceitos e valorizar o trabalho feito no Brasil, suas raízes, suas matérias-primas, seus artistas e artesãos. Mas antes de entrar neste universo de brasilidade, é importante saber diferenciar o artesanato da arte popular. Segundo a jornalista Regina Galvão, especialista no tema, o artesanato é uma réplica de determinadas formas, enquanto a arte popular é criada por artistas autodidatas, que desenvolveram uma identidade própria.
Influência do saber popular sobre a produção do design brasileiro
Sobre a influência da arte popular e do artesanato no design brasileiro, a jornalista destaca ser uma via de mão dupla. “Um acaba contribuindo com o outro. Nós já temos esta aproximação entre o design acontecendo há algum tempo, com nomes como Heloísa Crocco e Renato Imbroisi, a iniciativa da Ruth Cardoso de criar a Arte Sol e também outras iniciativas do Sebrae”, explica.
Esse saber ancestral não passa impune ao design brasileiro, ávido por mostrar sua brasilidade, é cada vez maior a apropriação de várias técnicas manuais para criar o seu repertório. “Os designers hoje estão hoje bem atentos às técnicas artesanais, você vê nomes como a Ana Neute e o Giácomo Tomazzi trabalhando materiais como o barro e trazendo a matéria-prima para uma contemporaneidade de formas”, completa Regina.
Esse olhar atento para os nossos saberes ancestrais está cada vez mais presentes na produção do design brasileiro. “Até indústrias como a própria Lider trabalham com o feito à mão, tem na fábrica seus marceneiros que trazem soluções. Então, eu acho que é uma parceria. Tanto do designer que vai a uma comunidade para aprender seu ofício até os artesãos se beneficiando de uma maneira importante do saber do designer, criando produtos mais contemporâneos”, finaliza.
Regina já viajou por todo o Brasil pesquisando o tema e selecionou para o nosso blog algumas de suas descobertas mais interessantes. Confira a seguir:
Manuel Eudócio
Manuel Eudócio Rodrigues é considerado um dos últimos discípulos de Mestre Vitalino e um dos maiores artistas da arte popular de sua época. Nascido em Caruaru, ficou famoso por seu trabalho em barro natural, cheio de cores. Já falecido, tem seu trabalho continuado pelos filhos.
J. Borges
O xilogravurista e poeta J. Borges teve no cordel a inspiração para o seu trabalho. Com o tempo, adquiriu identidade própria e começou a ser reconhecido pelas suas xilogravuras, que retratam com afeto a cultura nordestina.
Mestre Nuca
Os leões em barro com cabelo encaracolado, inspirado em sua mulher, são a marca registrada de Mestre Nuca e foram criados em referência ao Leão do Norte, símbolo da antiga força política, econômica e cultural do estado de Pernambuco. Falecido em 2014, tem seu trabalho continuado pelo filho Marcos.
Mestre Espedito Seleiro
O cearense ganhou fama ao se tornar parceiro da grife Cavalera e dos designers Irmãos Campana. Conhecido por seu trabalho em couro, reside e trabalha em Nova Lima, no interior do Ceará.
Mestre Cornélio
Seus santos de madeira são reconhecidos logo ao primeiro olhar. Mora em Campo Maior, no Piauí, e cria suas peças dentro da própria casa.
Sil da Capela
A aluna do mestre João das Alagoas é famosa por suas esculturas de barro com uma jaqueira. O pé de jaca é sua marca registrada, mas brincadeiras de infância também fazem parte do cenário, com suas meninas lendo e brincando de boneca.
Bordado Boa-noite
O nome faz referência a uma flor típica da região da Ilha do Ferro, em Alagoas. Tecidos com temáticas típicas da região, como barcos e casas de pescador são bordados por uma equipe de bordadeiras da cooperativa Art-Ilha.
Dona Isabel
A artesã do Vale do Jequitinhonha ganhou o Brasil pelas mãos das bonecas de Dona Isabel. Aprendeu o ofício com sua mãe e ficou conhecida pelas noivas de grandes dimensões.
Fernando Rodrigues
Os móveis de pés tortos que aparecem no início desta matéria foram assinados por Seu Fernando, da Ilha do Ferro. Falecido em 2009, Fernando ficou conhecido pela homenagem que fazia à natureza com suas obras.
E então, já pensou em integrar artesanato e arte popular no décor da sua casa? Conta pra gente nos comentários!